São José – Da carpintaria de Nazaré para o coração dos devotos!
Assim como Deus escolheu dentre todas as mulheres a mais santa para ser sua Mãe, da mesma forma, dentre todos os homens, Deus elegeu a José para ser o casto esposo de Maria e o custódio, o guardião do Menino Jesus. Do hebraico, Yosef significa “aquele que acrescenta”, “acréscimo do Senhor” ou “Deus multiplica”; era um nome bastante comum entre os judeus na época.
Descendente da casa real de Davi, toda sua linhagem está descrita no Evangelho de Mateus e, embora de origem nobre, sua ocupação – a carpintaria – nos leva a crer que era um homem de condições simples, porém dotado de grande inteligência e sensatez como tal trabalho exigia. Prometido em casamento à Maria, passou pelo grande sofrimento de vê-la grávida sem entender como tinha se dado tal acontecimento, e assim resolveu rejeitá-la secretamente para salvar Maria de ser espancada até a morte.
São Bernardo de Claraval, doutor da Igreja, vai dizer que São José jamais duvidou da palavra e da honra de Nossa Senhora, pois como todo judeu piedoso sabia que o Messias nasceria de uma virgem; mas que ele quis rejeitá-la porque em sua humildade se achou indigno de participar de Mistério tão grande. Socorrido por um anjo através de um sonho, que lhe revelou todo o Mistério, aceitou desposar Maria, e criar o Menino Jesus como seu próprio filho. Viveu uma vida simples e despretensiosa junto ao Menino e à Mãe, e dele não se registrou uma única palavra que tenha dito, de onde lhe vem um de seus maiores atributos: José, o homem do silêncio.
Acontecimentos grandiosos, mas vida simples
Segundo um piedoso autor francês, o dominicano Michel Gasnier[1] São José foi como “um véu de honra e de pudor (…) impondo com sua presença o respeito por Maria e conservando em segredo o Mistério da Encarnação”. Muitos outros teólogos e santos se posicionam no mesmo sentido, reafirmando a grandeza de São José por ser o guardião do Menino e aquele que custodiou a Virgindade de Maria.
Toda sua vida é permeada de acontecimentos grandiosos, que ele soube vivenciar de maneira simples, causando grande admiração e inspirando a confiança de seus fiéis devotos. São José presenciou o Nascimento do Menino Jesus na pobreza da gruta de Belém e foi ele quem recebeu os pastores e os reis magos quando vieram adorá-lo.
Quando Herodes decretou a matança dos inocentes, São José, mais uma vez avisado pelo anjo em sonho fugiu para o Egito com a Mãe e a Criança através do deserto. Arriscou sua própria vida para salvar Jesus recém-nascido. Não mediu esforços e enfrentou os perigos e adversidades do caminho com coragem e confiança em Deus. Por isso é invocado em momentos de grandes necessidades. Segundo uma antiga tradição da Igreja morreu nos braços de Jesus e de Maria antes de Jesus iniciar sua vida pública, por volta dos trinta anos.
Devoção a São José
Embora sua figura tenha sido contemplada desde os primeiros séculos da Igreja e sua pessoa honrada particularmente, somente no século XV seu culto foi oficializado na Liturgia da Igreja. Porém já no século II São Justino já meditava sobre sua pureza e outros grandes santos como Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo dele escreveram ainda no século V. Isso atesta o quanto ele sempre foi honrado com diligencia pela Igreja. Segundo Monsenhor Ascânio Brandão[2] “no século VIII celebrava-se a Festa do Santo Patriarca no dia seguinte ao Natal, em 26 de dezembro. Depois passou a ser celebrada em 19 de março”, como até hoje.
Devoção dos Papas
Nos últimos 150 anos todos os papas foram grandes devotos de São José, e manifestaram publicamente essa devoção, seja em atos de piedade e veneração, seja através de documentos oficiais exortando e incentivando os fiéis católicos a também recorrerem ao Santo Patriarca.
Do papa Pio IX, que o declarou Patrono da Igreja em 1870, é conhecido um célebre episódio contado pelo Monsenhor Ascânio Brandão[3]: depois de proclamar o Dogma da Imaculada Conceição de Maria em 1854, o papa pediu a um famoso pintor que retratasse a cena da proclamação numa grande tela. Ao apresentar o desenho para aprovação do papa, este questionou onde seria colocado São José no quadro, ao que o artista respondeu que seria entre os outros santos. Pio IX então disse – “não” – e apontando para a imagem de Jesus ordenou: “quero São José aqui, ao lado de Jesus e de Maria. Assim eles estão no Céu. Não os separemos!”.
Leão XIII, São Pio X e Bento XV também são exemplos de papas que lhe tributaram filial reverência, assim como o grande São João Paulo II, que dele diz “São José, assim como cuidou com amor de Maria e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo, assim também guarda e protege o seu Corpo místico, a Igreja, da qual a Virgem Santíssima é figura e modelo”.
O Papa Emérito Bento XVI, que no batismo recebeu seu nome em honra ao santo – Joseph Aloisius Ratzinger – nos convida a refletir que “A sua missão se desempenhou na humildade e no escondimento da casa de Nazaré. De resto, o próprio Deus, na Pessoa do seu Filho encarnado, escolheu este caminho e este estilo: a humildade e o escondimento na sua existência terrena”.
O próprio papa Leão XIII, que governou a Igreja entre 1878 e 1903 escreveu uma oração e recomendava aos fiéis que a rezassem pedindo o socorro de São José em momentos de dificuldade:
“A vós, São José, recorremos em nossa tribulação e, depois de ter implorado o auxílio de Vossa Santíssima Esposa, cheios de confiança solicitamos o vosso patrocínio. Por esse laço sagrado de caridade, que vos uniu à Virgem Imaculada, Mãe de Deus, pelo amor paternal que tivestes ao Menino Jesus, ardentemente vos suplicamos que lanceis um olhar benigno para a herança que Jesus conquistou com seu sangue, e nos socorrais em nossas necessidades com o vosso auxílio e poder. Protegei, ó Guarda providente da Divina Família, a raça eleita de Jesus Cristo. Afastai para longe de nós, ó Pai amantíssimo, a peste do erro e do vício.
Assisti-nos do alto do céu, ó nosso fortíssimo sustentáculo, na luta contra o poder das trevas; assim como outrora salvastes da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, assim também defendei agora a Santa Igreja de Deus contra as ciladas de seus inimigos e contra toda adversidade. Amparai a cada um de nós com o vosso constante patrocínio, a fim de que, a vosso exemplo, e sustentados com vosso auxílio, possamos viver virtuosamente, morrer piedosamente e obter, no céu, a eterna bem-aventurança. Assim seja”.
Devoção no Brasil
No Brasil, inúmeras são as igrejas a ele dedicadas e, dificilmente uma igreja dedicada a outro santo não possui um altar honrando São José, sobretudo naquelas consagradas à Virgem Maria; sempre junto a uma imagem de Nossa Senhora está a imagem de São José. Aqueles que foram unidos na Terra e agora estão unidos no Céu, também permanecem juntos nos altares de nossas igrejas e no coração dos fiéis; isso atesta o grande amor que o povo devoto dedica ao pai terreno de Jesus.
Também hospitais e instituições de ensino são colocados sob a proteção do Esposo da Mãe de Deus, e muitas congregações religiosas, confrarias e irmandades o têm como patrono. Uma antiga oração diz “se Deus colocou seus dois maiores tesouros, Jesus e Maria, sob os cuidados de São José, quão grande é o seu poder”; daí provém a grande confiança dos fiéis no patrocínio e valimento de São José.
Na região Nordeste do Brasil, em muitas cidades, sobretudo no estado do Ceará, do qual é o padroeiro, há um piedoso costume dos devotos de acompanharem a procissão de São José no dia 19 de março vestidos de amarelo, em referência ao manto de São José que nessa região na maioria de suas imagens, é amarelo. A ele se suplica pela chuva e acredita-se, popularmente, que se a chuva cair no dia 19 de março a colheita será farta e não haverá escassez, como uma benção de São José.
Modelo dos trabalhadores e esperança dos desempregados
Devido ao fato de São José ter exercido um trabalho humilde, mas honroso, todos os trabalhadores o invocam como seu celeste patrono. Pelo mesmo motivo os desempregados invocam sua intercessão em sua busca por um trabalho digno que lhes dê o pão de cada dia. Isso é aumentado pelo fato de ter sido o trabalho de São José o meio pelo qual ele alimentou e sustentou Nossa Senhora e o Menino Jesus durante toda sua vida, como diz um piedoso canto do dia 19 de março:
“Para que fosse levada ao mundo a Luz da Fé
Quanta madeira banhada no suor de São Jose´”
Terço dos Homens
Há poucos anos, surgiu também, de maneira simples, mas sem dúvida, conduzido pela Providência Divina, o movimento do Terço dos Homens. Esse movimento é o encontro semanal de homens que se reúnem para recitar o Santo Terço e reconhecem na figura masculina e paternal de São José uma fonte de inspiração, ao qual se identificam enquanto esposos e pais de família.
Muito difundido atualmente em todo o Brasil, o movimento reúne hoje milhões de homens que, anualmente, no mês de fevereiro peregrinam ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida.
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[1] GASNIER, Michel. José, o silencioso. São Paulo; Ed. Quadrante, 1995.
[2] BRANDÃO, Ascânio. Glória e Poder de São José. São Paulo: Editora Ave Maria, 1945.
[3] BRANDÃO, Ascânio. Glória e Poder de São José. São Paulo: Editora Ave Maria, 1945.
[4] http://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-ap_20201208_patris-corde.html